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Empreendedorismo e empoderamento: um manifesto sobre negócios, sororidade e empatia

Atualizado: 24 de abr. de 2021


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"Você tem tempo suficiente. 168 horas por semana: 40 no trabalho. 7 na academia. 56 dormindo. 65 horas sobrando. Pare de desperdiçar, comece a fazer! "










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Você já viu essas frases dezenas (quem sabe centenas) de vezes. Elas são extremamente comuns, principalmente quando se consome conteúdo sobre empreendedorismo.


Porque empreender é isso: fazer o impossível, ser melhor do que o trabalhador comum, ter consciência da sua superioridade por não se deixar levar pela vida fácil de ser um empregado e ter uma vida mediana. Ser a pessoa que vai além, que sabe que os que não são bem-sucedidos só não o são porque não se esforçaram o suficiente e não têm o mindset vencedor que você tem! Para ser um empreendedor e chegar ao topo, ao 1% que as pessoas comuns não chegam, você sabe que precisa fazer sacrifícios, mas é por isso que você vai chegar lá, porque enquanto os outros dormem você estuda, enquanto eles estão com os amigos você trabalha. E é por isso que eles nunca vão chegar ao topo, como você, porque eles são fracos e não tem foco, não como você. Certo?


Por muito tempo eu vi esse perfil de empreendedorismo e só conseguia pensar em como nada disso se encaixava no que eu queria pra minha vida. Claro, pela conta da primeira frase, eu tenho 65 horas por semana sobrando, mas ali não estavam contabilizadas as horas que eu passo nas minhas atividades domésticas (cozinhar, lavar roupa, lavar louça, arrumar a casa, fazer compras, etc.), na verdade, nem as horas que preciso parar para comer ou socializar com minha família e amigos (mesmo que virtualmente agora). E isso que eu não tenho filhos! Só imagino quantas horas uma mãe empreendedora precisaria subtrair dessa conta só para atender os filhos. Além disso, eu quero que exista um tempo para mim nessa semana, para cuidar da minha saúde mental, para relaxar e deixar minha mente recarregar. A vida não pode se resumir a trabalhar, ir na academia e dormir, pode?


É claro que nesse cenário todas as coisas que eu quero são supérfluas e muitas vezes retratadas como distrações. Lembro de uma conversa que tive com um empreendedor cerca de 2 anos atrás. Ele estava tentando me convencer a participar de um tipo de “treinamento” que ele tinha participado e que mostrou pra ele como se livrar de tudo o que estava impedindo-o de se tornar um milionário. Segundo ele, tinha muita gente na vida dele que era uma má influência, que ficava chamando para sair, cobrava a presença dele em lugares (festas de família, almoços, essas coisas – lembrado que isso foi antes da pandemia), que não entendia quando ele não tinha tempo para eles porque estava trabalhando no “império” dele. Até a namorada acabou sendo “cortada” porque consumia muito tempo e energia que ele poderia estar dedicando ao seu negócio.


Apesar das promessas de que em um ano eu seria uma milionária não participei do treinamento. Não expus o que pensava também, até porque não tinha conseguido formular o que realmente pensava sobre tudo aquilo e a única expressão que ficava me vindo a mente era “lavagem cerebral” - e acho que ele não ia gostar muito dela. Hoje essa ainda é uma expressão que, na minha cabeça, está muito associada com essa experiência, mas acho que minhas vivências de lá pra cá me deram um olhar mais amplo sobre o assunto.


Não é difícil entender como alguém que é bombardeado com mensagens como a do início desse post possa se sentir tentando a participar de um treinamento desses. Além disso, esses eventos costumam ser conduzidos por pessoas extremamente carismáticas e com uma narrativa muito envolvente. Esse empreendedorismo “trabalhe-enquanto-eles-dormem” é tão difundido que acaba sendo assumido como o único caminho para o sucesso. Afinal, se seu sucesso só depende de você e você não é bem-sucedida é porque não está trabalhando o suficiente, está dormindo demais, dando muita atenção para outras coisas, se deixando desviar do caminho do sucesso.


Na minha visão, esse empreendedorismo tem algo de muito predatório, de “lei da selva” na qual o mais forte come o mais fraco e, se você não é o topo da cadeia alimentar é porque você não se esforçou o suficiente e merece ser devorado por quem fez mais do que você. Mas mesmo nessa analogia o empreendedorismo predatório falha, porque não importa o quanto a capivara se esforce e trabalhe enquanto a onça dorme, ela nunca vai comer a onça. Porque esforço não é a única força em ação no mundo. Mas isso é assunto para outro texto.


Eu não consigo me ver nesse empreendedorismo.


Eu não quero ser essa empreendedora.


Aliás, foi a visão de que o empreendedorismo era isso que me fez negar o termo empreendedora por muito tempo. Se ser empreendedora é isso aí eu não queria ser uma. Mas os 3 anos nesse meio me mostraram que eu não sou a única que não se encaixou nesse molde. E isso me deu energia para repensar o tipo de empreendedorismo que eu quero fazer e que me dê orgulho de dizer que sou empreendedora.


Tem que existir outra forma de empreender!


Tem que existir um jeito de empreender que foque nas experiências e não só nos cifrões e dígitos na conta. Que respeite as individualidades de cada pessoa, seja inclusivo e acolhedor. Que valorize os processos e o crescimento e não só os resultados. Tem que existir um empreendedorismo que seja movido pela transformação que gera na sociedade e não só no crescimento da nossa conta bancária ou do nosso status.


E eu encontrei dentro do empreendedorismo feminino muitas dessas características. Não que o empreendedorismo “trabalhe-enquanto-eles-dormem” (aquele predatório) esteja ausente entre as mulheres também, mas eu vejo que muito mais mulheres buscam se afastar desse modelo e se aventurar em formas mais humanizadas de empreender.


No empreendedorismo feminino, a sororidade tem um papel muito importante e acredito que seja por isso que muitas das noções de “sucesso a qualquer custo” presentes no empreendedorismo predatório perdem a força. Estudos também mostram que mulheres empreendedoras investem mais dos seus lucros nas suas comunidades, o que gera distribuição dessa renda e transformação social.


Eu não estou dizendo que empreendedores homens não trazem ganhos para a sociedade ou que todos eles seguem esse modelo de empreendedorismo predatório que a gente falou. O mundo tem muito mais tons e nuances entre esses extremos. O que parece claro pra mim é que, na maioria das vezes, são as mulheres que estão envolvidas em um empreendedorismo mais empático, que foca não só em crescer e vender, mas também em difundir ideias de união, inclusão e acolhimento. Também me parece que é entre as mulheres que encontramos a maior parte das empreendedoras descontentes com as ideias do empreendedorismo tradicional e que se sentem sufocadas nos papeis que esse empreendedorismo as coloca. São dos negócios de mulheres que eu vejo mais ações baseadas na empatia e acredito que isso seja também uma forma de nos posicionarmos contra as ações que nascem do pensamento “para eu vencer alguém precisa perder”. Empreender dentro de uma comunidade é muito mais recompensador do que ser o “lobo solitário” que devora a todos que cruzam seu caminho.


Se você ainda está comigo e não cansou do textão, eu quero deixar só uma mensagem:

Você não precisa se encaixar no que esse empreendedorismo predatório difunde para ter sucesso. Você não precisa se comparar com os modelos dele. Existe uma forma de empreender baseada na inclusão, no acolhimento, no empoderamento e na valorização da sua individualidade como parte de uma comunidade múltipla e variada. Você não precisa sacrificar aquilo no que acredita para ter sucesso!


 
 
 

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