5 Lições do livro O Mito da Beleza para Empreendedoras
- Patricia Koefender

- 16 de mar. de 2021
- 6 min de leitura
Qual a cara de uma empreendedora de sucesso?
Talvez a imagem que venha na sua cabeça seja mais ou menos assim:


Sabe o que a maioria das imagens de “mulheres de sucesso” que temos em mente têm em comum? Elas são “bonitas”. Magras, brancas, de cabelos lisos ou no máximo ondulados, estão maquiadas e de unhas feitas, não têm rugas, não têm frizz, de preferência não têm nem poros. Sabe por quê? Porque nos ensinaram que sucesso e beleza são a mesma coisa e que para ter um é preciso ter o outro.
O primeiro problema que isso traz é o motivo pelo qual deixei bonitas entre aspas no parágrafo anterior. Isso porque “bonito” não é um conceito universal, é uma construção social, o que quer dizer que as modelos das fotos são consideradas bonitas de acordo com o que nossa sociedade valoriza como belo hoje. Mas em outro momento no tempo, por exemplo, elas seriam consideradas feias. Então, o primeiro ponto que precisamos tratar é que beleza é um conceito variável e que existem muitas belezas, apesar da nossa sociedade focar em um “modelo de beleza” específico.
O segundo é que a correlação entre beleza e sucesso é completamente falsa e, apesar de hoje olharmos para o mundo e pensarmos que sempre foi assim, ela na verdade surgiu há não muito tempo atrás, quando as mulheres começaram a lutar com mais força pelo direito de trabalhar fora. A verdade é que sua aparência não deveria ser um fator importante na sua carreira, a menos que sua carreira esteja diretamente ligada à sua aparência, como modelos. Nosso sucesso deveria depender das nossas capacidades, do nosso esforço, dos nossos conhecimentos, e não de pesarmos x kg, estarmos com as unhas sempre feitas e o cabelo alinhado.
Essas são lições que eu aprendi no livro O Mito da Beleza, da Naomi Wolf. Hoje eu quero trazer para vocês 5 pontos do livro que são importantes para toda empreendedora (mas também para toda mulher). O livro traz muito mais lições e informações, mas para este texto separei as seguintes:
1 – A dupla jornada é na verdade tripla
Toda mulher que trabalha fora conhece a dupla rotina de dar conta do trabalho e também da casa/família, mas a verdade é que existe uma terceira jornada que nos suga tanto ou mais do que essas duas primeiras: a da beleza.
Quantas horas por dia você passa cuidando da sua aparência? Maquiagem, manicure, máscara para o rosto, para o cabelo, creme para os pés, pernas, corpo, mãos, rosto, área dos olhos. Academia (para ficar magra, não necessariamente saudável), comprar aquele suplemento novo que promete acabar com o apetite, trocar de roupa porque essa marca minha barriguinha, skincare noturno de 12 passos. Fora o tempo que ficamos apenas nos preocupando com os “quilinhos a mais” ou como poderíamos mudar tal parte do corpo.
A sociedade nos impõe a obrigação de ser bonita, como se todas as nossas outras qualidades e feitos não tivessem valor se não estiverem acompanhados da beleza. Por causa disso, gastamos nosso, já escasso, tempo perseguindo ideais inalcançáveis de beleza e sofrendo quando (obviamente) falhamos.
A lição para nós empreendedoras é a seguinte: nós já temos rotinas corridas o suficiente, liberte-se da necessidade de ser bonita o tempo todo e utilize esse tempo para lutar pelo seu negócio e as causas que você acredita. Seu valor não está na sua aparência.
2 – Nem toda profissão deveria exigir beleza
Como falei no início, a beleza não deveria ser um fator determinante para o nosso sucesso. Ele passou a ser tratado como tal como uma forma de frear o avanço das mulheres no mercado de trabalho. Antes disso, apenas algumas profissões exigiam beleza, como modelos, atrizes e prostitutas. Isso foi estendido para todas demais carreiras como uma forma de justificar a não contratação ou a demissão de mulheres com base na sua beleza.
A verdade é que anos dessa narrativa de que para ter sucesso você precisa ser bonita (e não qualquer beleza, o padrão de beleza imposto pela sociedade naquele período específico) gravaram no nosso subconsciente que se eu não me encaixar no padrão eu não mereço sucesso. Isso é completamente falso e só serve para tirar a atenção do que nós temos a dizer e das nossas capacidades.
Lembre-se, sua aparência não define seu potencial e não estar nos padrões impostos não quer dizer que você não é linda e, muito menos, que não merece sucesso.
3 – O mito nos divide para nos subjugar
Uma das formas que o Mito da Beleza toma é a de pregar a competição entre as mulheres, ao ponto de muitas pessoas acreditarem que mulheres são competitivas entre si por natureza, quando isso é absolutamente falso. A competição entre as mulheres é incentivada pela sociedade como uma forma de nos mantermos desorganizadas e sozinhas. A sociedade faz isso nos convencendo de termos de lutar para sermos a mais bonita, que fulana está tentando ser mais bonita que eu e por isso eu a odeio, que eu sou melhor que beltrana porque sou mais bonita por isso não vou me misturar. E assim acabamos nos isolando de tantas mulheres que poderiam ser nossas amigas e aliadas.
Uma segunda forma com que o mito nos divide é através do culto à juventude e da desvalorização do envelhecimento. Tratando envelhecer como algo repugnante e que deve ser evitado de qualquer maneira, ele mantém as mulheres jovens e as maduras separadas. As jovens desdenham das maduras por não terem conseguido manter a juventude e as maduras se ressentem das jovens por serem a representação do que perderam. A verdade é que assim a sociedade incentiva as jovens a não aprenderem com as maduras e impede que as maduras participem da formação de uma geração de mulheres mais sábias.
Não deixe os padrões de beleza e a narrativa da competição feminina interferirem nas suas relações ou no valor que você dá para uma mulher, isso só vai te impedir de criar laços que podem beneficiar seu negócio e sua vida como um todo.
4 – A beleza custa caro.
Só no Brasil, a indústria da beleza movimenta R$ 101 bilhões ao ano desde 2001 (dados de 2019) e a grande maioria desse dinheiro ainda vem das mulheres. Não paramos para pensar em quanto gastamos cuidando da nossa aparência, mas eu posso garantir que é bastante, em parte por causa da pink tax (nome dado ao fato de que produtos para mulheres costumam ser mais caros do que seus modelos masculinos, mesmo que sejam exatamente o mesmo produto em outra cor – geralmente rosa).
A obrigação de ficar linda nos custa tempo, como já falamos acima, e nos custa também muito dinheiro. Dinheiro que poderia ser investido nos nossos negócios, em qualificação profissional ou simplesmente em melhorias na nossa qualidade de vida.
É preciso estar atenta ao que compramos porque queremos e o que compramos porque a sociedade diz que precisamos.
5 – O culto a magreza nos deixa famintas e fracas
Embora hoje a gente veja um movimento cada vez maior em direção a aceitação de todos os corpos, o padrão social ainda é predominantemente de mulheres magérrimas. O culto a essa magreza não é aleatório e nem tem a ver com alguma mudança natural na percepção do que é belo pela nossa sociedade. Ela é incentivada na mídia, e hoje muito no Instagram, porque mulheres famintas se tornam fracas e não tem condições de lutar por direitos ou construir impérios. Os números alarmantes de distúrbios alimentares em mulheres e meninias são prova de que essa magreza não vem acompanhada de saúde, pelo contrário, é quase sempre sinônimo de doença e muitas vezes leva à morte.
É fundamental colocarmos nossa saúde antes da nossa beleza para que possamos ter uma vida plena e conseguirmos nos dedicar aos nossos negócios.
Para finalizar, gostaria de deixar claro que tudo isso acontece inconscientemente e através de muitas ações separadas. Não existe alguém sentado em uma sala decidindo qual deve ser o peso das mulheres para se sentirem bonitas ou novas formas de jogar as mulheres umas contra as outras. Isso acontece de uma forma muito mais sutil. Acontece sempre que uma empresa precisa vender um creme novo e cria uma narrativa de demonização do envelhecimento do tipo “você não quer acabar assim” com uma foto de uma mulher com rugas. Ou quando, na hora de contratar uma funcionária, o RH dá preferência para uma mulher convencionalmente mais atraente porque ela tem “uma postura melhor” sem nem mesmo se dar conta de que no fundo o julgamento foi feito com base na aparência. Acontece quando a gente encolhe a barriga em uma foto porque em algum momento colocaram na nossa cabeça que precisamos ter uma barriga chapada. Ou quando olhamos outra mulher na rua e julgamos a aparência dela pelo motivo que for.
O Mito da Beleza não foi instituído, ele se formou como a resposta de uma sociedade que se viu pressionada a abrir espaço para as mulheres no mercado de trabalho, mas não queria realmente mexer nas suas estruturas, então ela foi tentando manter tudo o mais próximo de como estava antes, com uma ação aqui, uma decisão ali, um artigo nessa revista e uma coleção nova de roupas femininas mais justas que marquem a barriga. Além disso, essa sociedade também precisava lucrar e, como as mulheres deixaram de comprar aparelhos para casa e revistas de corte e costura, o mercado se modificou para vender algo em que essas novas mulheres gastariam seu dinheiro e estava criado o ciclo vicioso: vender a imagem de que beleza é sucesso, vender produtos de beleza, as mulheres compram, mudar a imagem do padrão de beleza, vender produtos para que a mulher entre nesse padrão, mudar o padrão novamente, sempre em direção ao inatingível. O padrão não é possível de atingir, mas a sociedade nos convence que é, desde que compremos os produtos certos e nos esforcemos o suficiente.



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